Nunca houve escravos no Brasil |
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Nunca tivemos escravos no Brasil! É isto mesmo! Por mais que a afirmação deste título possa parecer estranha, afirmo e reafirmo que nunca tivemos escravos no Brasil. Esta é mais uma destas concepções que foram aos poucos entrando para o senso comum e hoje certamente grande parte da população imagina que tivemos escravos no Brasil. Um imaginário que por si não se sustenta! E em torno deste imaginário de que tivemos escravos no Brasil, foi construída toda uma narrativa histórica. Assim se especula quantos foram os escravos, quando começamos a ter escravos, onde estavam estes escravos, o que faziam estes escravos. Chega-se inclusive a um imaginário de que houve uma lei libertando os escravos, a tal da Lei Áurea! E se não bastasse este imaginário, construído e repetido centenas de vezes, até que ficássemos convencidos, a ideia de que tivemos escravos no Brasil gerou outras que tentam sustentar este imaginário: ideias de que escravos eram comprados nos mercados, de que escravos eram transportados para o Brasil em navios negreiros, de que estes escravos eram trazidos da África. Gerou-se assim um imaginário que beira ao bizarro, de que na África havia pretensamente estoques de escravos, dos quais os comerciantes de escravos se abasteciam para os transportar ao Brasil e aqui fornecer os mercados de escravos principalmente nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro. E se nunca tivemos escravos no Brasil, como é alimentado este imaginário para que continue tão presente e tantas pessoas dele partilhem como se fosse uma verdade? Esta ideia de que tivemos escravos no Brasil é sustentada por uma imensa máquina ideológica, que persiste há séculos. Mesmo sendo inverdade, é uma ideia que está presente em muitos livros, em muitos filmes, em documentos. É inclusive ensinada largamente nas escolas. E não de hoje! Por isso é tão difícil até imaginar que este imaginário não seja verdadeiro. Estudo e pesquiso esta temática faz um bom tempo. Também já estive convencido de que tivemos escravos no Brasil. Mas mudei de opinião e estou cada vez mais convencido de que nunca tivemos escravos no Brasil. E que é preciso tratar de corrigir este erro de interpretação de nossa história. O que tivemos no Brasil, relacionado a este imaginário, foi algo diferente: nunca tivemos escravos, mas tivemos escravizados. Sim, centenas, milhares, milhões de escravizados. E isto por anos, décadas e séculos. Seres humanos foram violentamente escravizados. Ninguém é escravo! Só existiram (e existem) escravizados: pessoas postas e mantidas nestas condições contra sua vontade. Não se trata simplesmente de mudar a palavra. Trata-se de mudar o modo de pensar e entender o próprio ser humano. Imaginar que alguém é escravo, é imaginar uma condição humana não-humana. Por isso não se pode afirmar que alguém é escravo. Alguém só é escravizado! Escravizados foram mantidos em todo o país, escravizados foram comprados e vendidos em mercados, escravizados foram traficados para o Brasil. Nunca houve na África lugar algum onde houvesse estoques ou depósitos de escravos, nos quais os traficantes se abasteciam. O que houve foi o fato concreto de milhares de seres humanos terem sido escravizados. Esta não era a sua condição, foram feitos assim violenta e desumanamente. Para percebermos o quão bizarro é o imaginário de que escravos foram trazidos da África, é só pensar que milhares de pessoas de boa parte do continente africano estavam esperando a chance de serem trazidas ao Brasil como escravos. Quem quer ir ao Brasil como escravo? E um monte de pessoas se apresentaria! Por décadas e séculos a fio! Quase que ininterruptamente centenas, milhares de pessoas teriam tido este ideal: ser escravo no Brasil! É sobre esta bizarrice que estou falando! Na África nunca houve escravos a serem trazidos ao Brasil. O que tivemos foi o fato de milhares terem sido escravizados, para como escravizados serem transportados, para como escravizados terem sido vendidos, para como escravizados terem sido postos no trabalho! Neste caso, mudar a palavra é mais que mudar a palavra! Prof. Volney J. Berkenbrock
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